Partida e águas

Perder-se para se encontrar

Mundo dual, dolorido e colorido

Encontros, despedidas

Deixá-lo partir

Perdoá-lo

Desapegar-se

Palavras não mudam sentimentos

Explicar, foi seu entorno

Mas não foi

Foi o amor que se foi

Que, estranhamente, acabou

Não há argumentos

A linguagem do amor é outra…

É língua de anjos, não se fala, nem se ouve

…se sente

Não se vê

Executar o amor, aplicar penas, em vão

Não deixar que ele se transforme

Em pesar, desesperança e amargura é urgente

Tive-o nas mãos e no coração, mas escorreu entre os dedos, caiu no rio caudaloso

Misturou-se às águas turbulentas, perdeu forma, cor e cheiro

Correu, acelerou e chegou no mar, no oceano

Afundou, afundou,

A luz foi apagando

A escuridão aumentando

E até a vida marinha escasseando

O peso das águas o curvou

Não é ele mais

Não tem conserto nem concerto

Deixá-lo bem aí, no fundo inacessível, para acabar

Voltar para as margens, depois de muitas e exaustivas braçadas, e sem fôlego

Voltar a ver o sol e a lua

Respirar sem pressa

Caminhar mais leve e livre

E aí, estar sem amargura e com esperança

Pra recomeçar, fora das águas e sem esse amor, nas águas, partido

Poema que está no meu livro Céu – Quinta Estação, que será lançado em breve.

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Lúcia Fenelon

Médica cardiologista, poetisa, observadora de pássaros e da natureza🌷🦆

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